terça-feira, 22 de julho de 2014

Laços de amizade

Entrevista concedida ao Jornal Estado de Minas



O Bem Viver conta a história de pessoas que se uniram pela afinidade e pelo prazer de estar juntas

A turma do Petegolo, que existe há 38 anos, é formada por cerca de 30 amigos entre 54 e 79 anos
O que seria da vida sem os amigos? Pode ter certeza de que, na solidão, seria muito mais sem graça. Está comprovado que conviver com pessoas queridas afasta doenças, melhora a autoestima e alegra o dia a dia. O Bem Viver convida você para comemorar o Dia Internacional da Amizade, celebrado hoje, na contramão do mundo corrido: reserve um tempo para cultivar as relações com quem se ama.

Ninguém nasceu para viver sozinho. A psicóloga Fernanda Seabra, do Colégio Conviver e especialista em terapia familiar sistêmica, esclarece que precisamos pertencer a um grupo desde o momento em que nascemos e somos acolhidos pela nossa família. Com o tempo, passamos a nos agrupar por afinidade. “Os inimigos têm os nossos defeitos e os amigos, as nossas características, por isso eles são o espelho da nossa alma. Com a amizade vamos atrair pessoas que se parecem com a gente e têm em comum os mesmos planos, vontades e desejos”, diz.

A realidade, no entanto, é cruel. São tantas as tarefas para cumprir em um curto tempo que faltam oportunidades para encontrar os amigos. Afinal, manter as relações em dia exige dedicação. “Mas na hora em que passamos um momento de dificuldade, se não tivermos estabelecido uma rede de apoio e alimentado nossas relações vamos sofrer sozinhos. Os vínculos nos dão suporte”, pondera. Por isso, a psicóloga sugere criar o hábito de cultivar as amizades, nem que seja com um telefonema. Nenhuma relação vai ter futuro, se não for cuidada.

Todas as quintas-feiras, o pediatra Jamil Nahass, de 74 anos, deixa o consultório para encontrar amigos de longa data, todos integrantes do grupo Petegolo. Eles jogam peteca e depois jantam no Pampulha Iate Clube, em Belo Horizonte, enquanto batem papo e se divertem. “A maior motivação para estar com os amigos é o aconchego. Às vezes você sai com um problema do consultório e, quando chega lá, com todo mundo falando ao mesmo tempo, em cinco minutos está numa ótima. Parece que fez terapia de um ano”, brinca. “Se não fosse o compromisso, pelo menos meia dúzia estaria em casa deprimido e cheio de dor.” Hoje, quase 30 homens fazem parte do grupo, entre 54 e 79 anos. 

As regras para entrar no Petegolo são claras: o candidato tem que passar primeiro pela avaliação do chefe e depois deve pagar um jantar para todos os integrantes. Antes de ser oficialmente integrado ao grupo, ele permanece em período de experiência por três meses. “Também tem que jogar peteca no mesmo nível. Se jogar mal, a turma o encosta até recuperar a forma”, informa o pediatra. E mais, mulher não entra. Há quase quatro décadas, Jamil conquistou seu lugar no Petegolo cozinhando deliciosos pratos árabes e assumiu a função de fiscalizar a saúde dos velhos amigos. “Fico coordenando a saúde de todos. Não deixo comer demais, não deixo engordar nem abusar da bebida.”

De fato, ficar isolado aumenta as chances de depressão. Mais um motivo para estreitar as relações com os amigos. “Saber que o outro se interessa por mim e me considera alimenta a vontade de viver e o desejo de sair de casa. Isso nos mantém vivos”, afirma Fernanda Seabra. A amizade também pode ser usada a favor da saúde, assim como ocorre no Petegolo. Por que não convidar um amigo para ser companheiro de atividade física? Há quem se sente mais motivado para se exercitar quando está acompanhado. “É um momento de cuidar do corpo, se divertir e conversar. A pessoa volta para casa muito mais relaxada e com uma sensação de prazer. Pode até ser que os problemas não se resolvam, mas o fato de ser ouvido por uma pessoa de quem se gosta tem efeito terapêutico”, diz a especialista.

COMPANHIA
O professor Ronaldo Lemos Botrel, de 61, não tem dúvida de que a atividade física fica muito melhor com companhia. Ele é um dos integrantes mais antigos do grupo Corredores da Bandeirantes (Corban), em referência ao nome da avenida onde ocorrem os encontros diários, sempre no início da manhã. A preguiça e o cansaço são deixados de lado quando Ronaldo lembra como é bom conviver com os amigos que, assim como ele, gostam de correr. “Como temos afinidades, sai muita risada, casos engraçados e brincadeiras. Além de fazer a prática da corrida, desfrutamos de momentos agradáveis”, comenta.

Em mais de 30 anos surgiram vários amigos que ainda estão presentes na vida de Ronaldo. O professor, que também é maratonista, ressalta que a longa preparação para as provas acaba contribuindo para criar laços de amizade entre os competidores. “A corrida é o que nos motiva a encontrar e conviver, e em razão disso muitas amizades são consolidadas.” 

FONTE: Estado de Minas 

sábado, 14 de junho de 2014

Copa das 'selfies': a moda já foi longe demais? Saiba se você também sente os efeitos da exposição

Agradeço a oportunidade e  profissionalismo da repórter colunista Letícia Orlandi da Saúde Plena, e à Letra comunicação pelo convite.



Letícia Orlandi - Saúde PlenaPublicação:11/06/2014 08:30Atualização:13/06/2014 14:50



Nos Estados Unidos, disseminação dos autorretratos é apontada como razão para aumento de intervenções no rosto e também nas mãos. Pressão constante nas redes sociais e aplicativos teria aumentado insegurança, principalmente em adolescentes e adultos jovens. 

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Cristiano Ronaldo (@cristiano) e Neymar (@neymarjr): com mais de cinco milhões de seguidores, jogadores são representantes da 'Copa da Selfie'
Se o seu nome é Neymar Jr. ou Cristiano Ronaldo e você tem mais de cinco milhões de seguidores no Instagram, é provável que sua máxima nas redes sociais seja: quanto mais selfies, melhor. Mais publicidade, mais fãs, mais promoção para o time e para as marcas que você representa. O Mundial do Brasil já está sendo chamado de 'Copa da selfie' nas redes sociais, mas há quem veja com ressalvas esse tsunami global. Entenda agora o porquê.

“Se você não for magra e bonita, não há espaço para você no mundo.”. Estas foram as palavras de uma adolescente de 16 anos em uma sessão de terapia. A menina não está sozinha. A Academia de Plástica Facial e Cirurgia Reconstrutiva dos Estados Unidos confirma que houve um aumento, nos últimos 12 meses, na procura por cirurgias plásticas, em relação ao ano anterior – e o motivo seria a onda dos ‘selfies’ – autorretratos postados nas redes sociais. De acordo com um em cada três médicos entrevistados, o motivo para fazer a cirurgia era a pressão pela exposição 'perfeita' na internet. Segundo o presidente da Academia, Edward Farrior, a tendência significa que 'estamos cada vez mais narcisistas' e dispostos a quase tudo por uma beleza idealizada.

Nos pacientes com menos de 30 anos, as cirurgias no nariz aumentaram em 10%, os transplantes capilares 7% e as cirurgias de correção das pálpebras 6%. A estadunidense Triana Lavey, de 38 anos, gastou R$30 mil em cirurgias plásticas em busca da 'selfie perfeita', e parece que a ideia deu certo - ela foi contratada por uma agência para promover diversas marcas em seus perfis nas redes sociais, e o cachê pode alcançar meio milhão de reais. “Continuo sendo eu, só que agora com Photoshop”, brincou a mulher, em entrevista à TV americana. Triana fez modificações no queixo, no nariz e nas bochechas, além de regularmente fazer aplicações de botox para disfarçar as rugas. “A presença nas redes sociais é tão importante quanto na vida real. Botox, para mim, é tão básico quanto pagar o aluguel ou fazer o supermercado”, acrescentou.



Para muito além do rosto, essa preocupação com a foto perfeita chegou também às mãos. Achou esquisito? Mas tem gente realizando procedimentos estéticos radicais para deixar a pele mais lisa e alcançar a ‘foto de anel de noivado’ mais bonita entre as amigas. Marcas de sol, veias salientes ou ossos muito saltados não são bem-vindos. Até editores de revistas para noivas consideraram o procedimento um exagero, mas as noivas norte-americanas insistem. 

O aumento de cirurgias plásticas entre os mais jovens é um tema delicado. Se, para os adultos, já é um desafio chegar a um denominador comum entre o que o paciente deseja e o que uma vida plenamente saudável permite; quando se trata de adolescentes o debate ganha mais variáveis - é mesmo necessária uma cirurgia tão cedo na vida de alguém? Em quais situações isso se justifica?

 (Arte: Soraia Piva / EM / DA Press)


Meghan provoca: por que a foto de uma pessoa acima do peso foi censurada e as selfies de celebridades permanecem? O questionamento rendeu um pedido de desculpas do Instagram
Na contramão das cirurgias plásticas e das dietas malucas e na direção da vida saudável e da autoestima, uma cantora e videologger estadunidense conseguiu colocar o Instagram em uma posição embaraçosa, justamente por causa de uma selfie. Meghan Tonjes passou recentemente por um processo de emagrecimento, sem deixar, no entanto, de ser uma moça curvilínea. Apesar de não corresponder ao padrão midiático, Meghan sempre posta fotos de corpo inteiro das partes que mais gosta, como o bumbum, com a hashtag #honro_minhas_curvas (#honormycurves). As selfies não contém nudez.

Só que uma das imagens foi retirada pelo Instagram. Essa postura da rede social motivou um vídeo, hoje já com mais de 745 mil acessos, em que Meghan mostra exemplos de fotos de pessoas magras e 'bonitas' que, mesmo sendo ainda mais explícitas que a dela, foram mantidas. Ela questiona a política do Instagram – se fotos de biquíni e lingerie fossem sempre retiradas, tornaria-se impossível tirar uma selfie na praia, por exemplo – e aproveita para pontuar questões de autoestima que envolvem as meninas consideradas plus-sized. “Se celebridades magras sempre postam fotos ainda mais reveladoras, por que a minha foi removida?”, pergunta.

Meghan faz parte de uma comunidade de mulheres que tenta criar uma mundo mais positivo e menos cruel em relação aos corpos femininos. “Esta foi uma oportunidade para começar um diálogo muito importante, ainda que o Instagram não veja esse vídeo. Só porque alguém se sente desconfortável em ver uma pessoa gorda, isso não significa que a foto vai contra as regras da rede”, pondera a cantora. “Gostar do seu corpo e estar confortável com ele é uma das coisas mais rebeldes que a gente pode fazer neste mundo. É uma revolução, mas há pessoas que não concordam e querem lutar contra isso”, dispara, no vídeo.


Meghan Tonjes usa as selfies como forma de levantar a autoestima de garotas curvilíneas e encorajar uma visão positiva sobre o corpo feminino
Acontece que os administradores da rede social assistiram ao depoimento e admitiram o erro em um comunicado oficial: “Nós sempre tentamos encontrar um bom equilíbrio entre permitir que as pessoas se expressem e manter o Instagram como um lugar divertido e seguro. Nossa política limita nudez e conteúdo para adultos, mas reconhecemos que nem sempre nós avaliamos corretamente. Neste caso, nós cometemos um erro e restauramos o conteúdo”.Corpo e mente prontos
Na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), a visão é um pouco diferente, mas não é totalmente oposta à dos colegas norte-americanos. O presidente da SBCP, João de Moraes Prado Neto, não acha que a moda da 'selfie', isoladamente, é capaz de atrair novos clientes ao consultório. “Já consultei meus colegas em duas ocasiões diferentes, nos últimos meses, e nenhum deles relatou demandas motivadas pelo autorretrato na web”, afirma o especialista.


A disputa pela selfie perfeita chegou às fotos que anunciam o noivado - na foto, a cantora e atriz britânica Frankie Sandford. Mulheres aplicam botox e passam por cirurgias plásticas para que as mãos não tenham 'falhas' na imagem
O médico pondera, no entanto, que o culto à beleza propagado pelos diversos meios de comunicação tem efeito sobre o aumento de procedimentos, principalmente entre os mais jovens. “A influência da mídia e a precocidade cada vez mais acentuada das crianças e adolescentes criam uma falsa 'necessidade' de fazer a cirurgia. A obrigação de fazer acaba sendo mais forte que a verdadeira vontade do jovem. Não vejo isso com bons olhos e acho que é necessário um limite”, aponta o presidente da entidade.

Prado Neto acrescenta que essa postura nada tem a ver com legislar contra a própria causa – a cirurgia plástica. “Pelo contrário. Para que um procedimento tenha sucesso e deixe a pessoa realmente satisfeita, é preciso haver uma avaliação criteriosa do ponto de vista emocional e psicológico. Há pacientes que, independentemente da idade, têm maturidade; e outros não”, acrescenta. “E há diferença entre as cirurgias também. A de orelhas de abano, por exemplo, já pode ser feita a partir de 6 anos, porque a estrutura não vai se modificar depois disso e podemos evitar os constrangimentos que vêm a partir dessa característica”, enumera.

Para o cirurgião, intervenções em partes do corpo que ainda não atingiram desenvolvimento pleno – caso das mamas e do nariz, por exemplo – devem ser realizadas em um momento de mais estabilidade emocional. “Essa constatação deve ser em conjunto, com os pais, com o jovem, com um psicólogo, se necessário. É comum que eu recomende à família que volte para casa e pense mais um pouco, antes de tomar a decisão”, orienta Prado Neto.

A procura pelas intervenções estéticas entre os adolescentes brasileiros cresceu 141% entre 2008 e 2012. As plástica em adultos cresceram 38% no mesmo período. “A relação entre médico e paciente precisa ser transparente e inspirar confiança para que, caso a caso, a melhor solução seja encontrada. As inseguranças típicas da idade, somadas às mudanças rápidas que o corpo sofre nessa época, sempre foram variáveis importantes e que pesam para formar os desejos dos adolescentes”, alerta o médico.

A psicóloga Fernanda Seabra: necessidade de pertencer a um grupo não é nova, mas velocidade com que as coisas acontecem mudou. 'Ouvi de uma adolescente que o espaço das pessoas no mundo é definido pela magreza e beleza', alerta (Divulgação)
A psicóloga Fernanda Seabra: necessidade de pertencer a um grupo não é nova, mas velocidade com que as coisas acontecem mudou. 'Ouvi de uma adolescente que o espaço das pessoas no mundo é definido pela magreza e beleza', alerta
A psicóloga Fernanda Seabra, especialista em Terapia Familiar Sistêmica e integrante do Projeto Adolescer, foi a profissional que ouviu a frase que abre a matéria. Com aquelas palavras exatas. Ela aponta que o narcisismo, apesar de sempre parecer a explicação mais fácil nesses casos, realmente está inserido nesse contexto, mas não é o único argumento. “Parte dos usuários – não todos, é claro – vive no mundo virtual aquilo que não consegue viver na realidade. São pessoas em sua maioria carentes, com autoestima debilitada e que dependem de 'curtidas' e comentários para se sentirem bem, para terem a sensação de que são amados”, explica.

Fernanda salienta que essa 'necessidade' não é nova, o que mudou foi a rapidez com que a informação e a imagem circulam. Com o ambiente virtual, tornou-se possível construir uma imagem de glamour e ganhar visibilidade com essa pose, ainda que seja uma meia-verdade. “Quem conquista essa visibilidade passa a ser 'seguido' e as marcas estão de olho nesses porta-vozes. O transtorno de personalidade narcisista, caracterizado, entre outras coisas, pela pessoa que precisa constantemente de aprovação externa, sempre fará parte dessa relação”, avalia. Um outro complicador é que o narcisista quer que o outro veja tudo que ele faz, mas não quer que as outras pessoas tenham a mesma oportunidade.” Aos poucos, essa pessoa vai perdendo parte de suas características humanas – a bondade, a compaixão, o altruísmo”, destaca a psicóloga.

A desumanização vem acompanhada de um pensamento com foco em imagem, poder e status. No caso das mulheres, principalmente, em magreza. Fernanda cita dois exemplos – a 'selfie' pós-sexo e o 'Ken brasileiro'. “A selfie #aftersex, que se tornou moda nos últimos meses, tem alguma outra função que não dizer ao mundo que se é uma pessoa amada, que se tem vida sexual satisfatória – ainda que a realidade não seja tão cor de rosa assim?”, questiona a psicóloga. 

No caso do modelo Celso Santebañes, mais conhecido como o Ken brasileiro, uma declaração recente chamou a atenção de Fernanda - “quando estou triste, olho no espelho, aí não fico mais triste”, disse em entrevista na televisão. Aos 20 anos, ele já gastou R$30 mil em cirurgias plásticas – nariz, queixo, peito. “O entrevistador questionou porque o rapaz não olhava nos olhos dele na entrevista. Ele disse que preferia olhar o monitor. É um sinal de desumanização”, exemplifica a especialista.


Celso Santebañes, 20 anos, R$30 mil em cirurgias, conhecido como Ken brasileiro - 'quando estou triste, olho no espelho, aí não fico mais triste'
É claro que existe uma parcela das pessoas que faz uso saudável da rede - por motivos profissionais, para dar notícias aos amigos e familiares em momentos de viagem, por exemplo. “São pessoas que vivem o mundo real, têm amigos reais, não 'precisam' de curtidas e comentários. Conseguem dividir seu tempo, conseguem ir e vir entre as duas faces. Mas quando esse hábito se torna uma compulsão, integra uma necessidade de ostentação e de aprovação constante, é hora de questionar”, orienta Fernanda. Conectar-se no virtual para fugir do real é o perigo, destaca a terapeuta.

Nada de novo no front?
Há um outro lado nessa história toda – o de quem curte. A exposição pode criar, além de admiradores, uma rede de inveja. Existem aqueles perfis de usuários de redes sociais que, apesar de não postarem nada de si mesmos, acompanham a vida do outro. E pautam sua vida pela rotina alheia – não por admiração.

A vontade de pertencer a um grupo é velha conhecida dos seres humanos. O que mudou é a instantaneidade e os critério de pertencimento. Se antes esperávamos dias pela revelação de uma foto, hoje ela está no ar em segundos. “Posso mostrar o que eu tenho, o que eu consumo. É isso que vai me tornar alguém diante dos olhos de várias pessoas – o ter; e não o ser. A imagem que eu quero passar está diretamente ligada ao consumo”, aponta Fernanda.

De acordo com a psicóloga, a imagem construída na sociedade do consumo e da performance contrasta com as queixas no consultório – solidão, dificuldade para encontrar um companheiro (a), carência. “O selfie traduz bem isso – eu gasto para me transformar em quem eu quiser e ficar bonito de acordo com os critérios alheios. Segue-se a moda dos outros; e não a própria moda”, pondera Fernanda.


A 'selfie' do Oscar de 2014 bateu o recorde de imagem mais republicada nas redes sociais foi uma ação promocional que rendeu cerca de um bilhão de dólares para a Samsung
Um dos maiores desafios do ser humanos é, segundo a especialista, tolerar quem nós somos. “Não vejo problemas em uma intervenção cirúrgica, desde que o significado seja realmente importante para aquele indivíduo; e não por uma moda ou para ganhar exposição”, conclui.

Identidade
E por que sempre os mais jovens são os mais afetados? Esses impactos são mais fortes na turma com menos de 30 anos porque é justamente até essa idade que a pessoa está construindo sua identidade. 

Os mais jovens têm ansiedade para experimentar, mas ainda não têm crivo para avaliar plenamente. “Entre os 18 e 30 anos, é comum que a maioria das pessoas faça o que todo mundo faz - tira a carteira, entra para a faculdade. É a cultura do 'seu mestre mandou'”, esclarece Fernanda. 

Por volta dos 30 anos é que os questionamentos verdadeiramente acontecem e a pessoa passa a reavaliar o que traz significado para a vida. Mas nem sempre – até isso está mudando “As crianças têm que ser miniadultas, usa roupas de adulto, crescer rápido. Depois entram na juventude e não conseguem sair dela. Têm vida sexual ativa, emprego, renda, mas não querem sair da casa dos pais, não querem assumir responsabilidades”, aponta a psicóloga.

Fernanda avalia que os adultos de hoje são 'adulterados', pessoas que têm idade para serem adultos, mas não entendem o que é responsabilidade ou consequência. Não sabem como lidar com a tristeza, porque não há lugar para isso no mundo em que viveram. A tristeza afasta as pessoas no mundo virtual, faz perder 'amigos'. 


Jen Selter é considerada a rainha do 'autorretrato de bumbum' (bottom selfie) e seu sucesso - mais de 3 milhões e meio de seguidores - motivou reportagens que perguntam: a onda do selfie já foi longe de mais?
O resultado é o excesso de remédios para afogar os sentimentos, é o foco no mundo virtual, no poder, na beleza. É a não-aceitação do envelhecimento ou os efeitos da gravidez no corpo. “Quando a amiga vai visitar a outra que teve bebê, a primeira reação é – olha, como você está magra, ótima. E depois é que vem o bebê. Ficamos distantes de nós mesmos, sem saber quem somos. Não aceitamos que o tempo traz coisas boas”, define a especialista.

Inversão de valores
A questão do aumento das cirurgias plásticas entre os adolescentes esbarra também na inversão de valores – pais inseguros resolvem assumir a posição de 'amigos' dos filhos, e jamais dizem ‘não’. O ‘não’ vai gerar um trauma; e o trauma é ruim. “Os pais geram um ciclo muito negativo para o ser em formação. Eles pensam - se eu repreender meu filho, ele vai se tornar rebelde, vai usar drogas. E a criança fica sem limites e sem referência”, exemplifica a profissional. Fernanda Seabra provoca: o jovem que só ouve ‘sim’ dos pais, aceitará um não da namorada?

No caso da filha que pede uma lipoaspiração ‘de presente’, é comum que a mãe também esteja na mesma onda. “Se eu quero ver a minha filha feliz, ela tem que fazer isso”, é a frase que vem à cabeça. “Muitos pais não entendem a alternativa do diálogo franco - explicar que neste momento ainda é cedo para uma intervenção desse porte. A vontade no futuro pode ser outra, pode ser até oposta”, pondera. 

A psicóloga completa esse raciocínio com a questão das pequenas misses, submetidas a tratamento de beleza quando ainda têm 3, 4 anos. “Não é uma realização da criança, é da mãe”, alerta.


A inglesa Poppy, de 7 anos, ganhou no último Natal um voucher de R$17 mil para uma futura lipoaspiração. Não é a primeira vez que a mãe da menina, Sarah Burge, de 51 anos, oferece um presente do tipo. Conhecida como 'Barbie Humana', por ter feito dezenas de cirurgias plásticas, Sarah já havia dado à filha um vale-silicone de R$ 14,5 mil. As duas gastaram mais US$30 mil para participar de concursos de mini-miss pelos EUA
Fernanda considera que as consequências de 'pular etapas' refletem-se de forma drástica na vida desses adolescentes, e não só na estética. “Se há falta de limites e permissividade total, a vida sexual também se inicia mais cedo. Quando ela começa antes que o corpo esteja pronto, corremos o risco de ter uma geração de meninos e meninas que simplesmente não têm prazer. Eles transam mesmo assim, porque 'todo mundo transa'”, alerta a especialista.

Mundo interior desconectado
Todas essas questões, que parecem mais externas – o cabelo liso, o corpo escultural, o peito grande – estão vinculadas, na verdade, a uma dificuldade de construir o mundo interior. Fernanda aponta que, para haver conexão verdadeira consigo mesmo, é necessário perguntar-se: do que eu gosto? O que me satisfaz? O que me deixa feliz? Do que eu não gosto em mim? Como lido com essas coisas que eu não gosto? “Se a resposta a essas perguntas for relacionada apenas às aparências e a objetos de consumo, é tempo de parar e pensar”, diz Fernanda.

Quando não há pausa para pensar, só teremos tempo para o mundo das imagens, para as dietas malucas e os transtornos alimentares. “É por isso que o nariz imperfeito torna-se fonte de sofrimento. É por isso que não toleramos as outras pessoas, é por isso que nós nos desumanizamos. Muitas vezes, só na dor e na perda é que conseguimos fazer essa conexão interior. Temos que ensinar nossos filhos a questionar”, reforça. “E isso vale para a obsessão pela beleza, para a dependência química (hoje, meninos de 12 anos já são internados para tratar a dependência do álcool), para as crises naturais da adolescência. Você deve mostrar ao seu filho ou filha que ele tem valor, mesmo que a vida traga alguma frustração - e ele tenha que lidar com ela”, conclui a psicóloga.

Fernanda Seabra lembra que o problema não está na ferramenta ou na rede social em si. Ela oferece uma infinidade de aplicações positivas. A preocupação está no preparo para avaliar as posturas virtuais e o uso que cada um adota. Em todos os casos, a dica é: questionamento. Perguntar-se, de tempos em tempos, sobre os efeitos do online na vida real é sempre uma postura válida.

Sinais de alerta:
Caso você apresente algumas dessas características, está na hora de parar para pensar, segundo a psicóloga Fernanda Seabra:

-dificuldade para desconectar das ferramentas online, causando atrasos em compromissos reais, por exemplo; ou noites insones;
-sentir-se menos bonito ou interessante em comparação com os 'amigos' das redes sociais;
-o número de curtidas e comentários em 'selfies' no Instagram ou Facebook é motivo de preocupação e de verificação constante;
-você tira mais fotos para mostrar que você está em determinado lugar do que para celebrar o momento ou indicar o programa aos amigos;
-você não posta nada pessoal, mas acompanha a rotina dos 'amigos' e quer imitá-los;
-você se sente tentado a fazer intervenções estéticas em função de fotos que vê nas redes sociais.


À Minha Imagem - Revista Viver Brasil

Entrevista que concedi para a Revista Viver Brasil. Agradeço à repórter colunista Eliana Fonseca pelo convite e à Letra Comunicação.

Desde que mundo é mundo – o que ficou bem mais claro com a invenção da câmera fotográfica – a imagem sempre foi o calcanhar de Aquiles da humanidade. Não por acaso, um dos mais populares mitos é justamente o de Narciso que, ao ver sua imagem, acaba se apaixonando por si mesmo. E não se trata de exceções, atire a primeira pedra quem já não ficou horas do espelho para uma fotografia de poucos segundos. Com as redes sociais, o excesso não está mais nos posts do outro, mas na forma como nos relacionamos com nossas próprias imagens. No ano passado, as selfies – termo para designar autorretratos para postagens nas redes sociais – ficaram no topo da popularidade. Desde então, surgiram as healthies (selfies de corpos saudáveis) e as usies, as fotografias de 2 ou mais pessoas. Ao observar as redes sociais, é possível encontrar de tudo um pouco – desde as que procuram o equilíbrio ao postarem suas imagens até aquelas que têm autorretratos em enterros, no pós-sexo, em acidentes graves e até quem já tenha tentado o suicídio por não conseguir a selfie perfeita. A tênue linha entre o excesso e a diversão tem revelado que nem todo mundo sabe lidar bem com sua autoimagem.
Vamos à pergunta básica, afinal o que há por trás de uma selfie? Em primeiro lugar, é uma forma do ser humano se relacionar com as novas tecnologias, bem como o mundo e as pessoas ao seu redor. A psicóloga Mônica Vidal explica que uma pessoa madura geralmente posta selfies mais espontâneas, em vez daqueles estrategicamente elaboradas e editadas. Pessoas mais inseguras tendem a postar selfies mais sexualizados e exibicionistas com o intuito de receber o maior número de curtidas e, com isso, obter uma falsa percepção de que são amadas. “E quanto maior o número de comentários e curtidas, maior essa ilusão, o que reforça o comportamento narcisista de maneira cíclica.”
Logicamente, há milhares de exceções e surpresas. Uma delas é a do padre que posta uma selfie com os noivos bem no meio da cerimônia de casamento. É surpreendente vê-lo pedir um minuto para a fotografia e avisar que, dali a poucos segundos, a foto estará no seu Instagram e Facebook. O padre Fernando Lopes Gomes, da paróquia Santo Inácio de Loyola, no bairro Cidade Jardim, realizou, no ano passado 198 casamentos, todos com selfies. Ele tem pavor à pecha de exibicionista ou modista. Diz que a selfie integra um trabalho maior de personalização com os fiéis de sua paróquia, em que as histórias de amor, no caso de casamento, estão sendo celebradas diante de Deus. “Ao fazer a selfie, mostramos o casamento que está ocorrendo e precisa ser divulgado porque é uma celebração de algo que a humanidade necessita ver como algo bom. Atualmente, vemos as redes sociais serem tão mal usadas.”
Gomes, também, não se sente muito confortável com adjetivo de moderno, mas o fato é que não há concorrente em outras igrejas, pelo menos que ele saiba. Já sobre a repercussão dentro da igreja, é ainda mais econômico nas palavras: “Estão acolhendo muito positivamente”. 
Quem gosta de selfies, não esconde que também é uma forma de exibicionismo, mas nem por isso pode-se perder o bom senso. As amigas Carolina Rocha Andrade, 24, e Cristiane Teixeira, 20, são adeptas das usies e adoram tirar fotos juntas. Estudantes de direito, querem comentários positivos para as suas imagens. Gastam horas para escolher as melhores fotos. São 2, no máximo, nos dias úteis e várias nos finais de semana. Procuram evitar as apelativas. “Nosso limite é o que achamos vulgar. Não postamos fotos com decotes, com roupas exageradas, nada apelativo. E também nada de frases sobre carência ou ser solteiro”, explica Carolina.
No caso da jornalista Ludmilla de Carvalho Rangel 27, o fascínio pelo autorretrato está presente desde sempre em sua vida, mas a onda da selfie é algo bem restrito em seu cotidiano. Ela integra um grupo de pessoas que acredita que nem tudo que se faz deve ser compartilhado nas redes sociais. As exceções são em momentos especialíssimos e, nessa hora, Ludmilla prefere o junta-junta dos amigos para as suas postagens. O que vale nesses momentos é a espontaneidade. “Tiro poucas fotos e sempre escolho a primeira. Não precisa ser aquela foto arrumadinha, posada. Acho que postar fotos insistentemente é cansativo.”
Eis um ponto que os adeptos de postagens de muitas selfies ignoram, imagem em excesso também cansa. A psicóloga Mônica Vidal chama a atenção para o fato de quem posta selfies demais acaba causando o efeito oposto ao desejado – afastando e irritando os amigos, que podem vir a se tornar ex-amigos. Para outra especialista, a psicóloga Fernanda Seabra, o excesso de selfies pode indicar um caminho que é negativo, o da desconexão com a alma para uma conexão exagerada com a imagem. “A conexão com a alma é quando construo o meu mundo interno e tenho segurança do que sou, do que gosto, das minhas fraquezas, habilidades. Não preciso mostrar para o outro nem o meu lado bacana, nem o meu lado feio. Só aprender a lidar com os 2 lados e reconhecê-los. Automaticamente, quem se relacionar comigo vai conhecê-los.”
Há pessoas que reconhecem o fascínio pelos autorretratos e dizem que já passaram por situações de conflito por causa disso. Esse foi o caso da empresária Dafne Pereira, 35. O encanto por fotos vem da infância e ela conta, aos risos, que sempre dava um jeito de frequentar festas só para aparecer em todas as fotos. Adepta das redes sociais desde o Orkut, acostumou-se a divulgar muitas imagens em todos os momentos da vida. Atualmente, grávida de 7 meses, faz do Facebook e Instagram uma espécie de diário. “Agora, com a gravidez, estou num momento sublime, que nada me importa, mas antes, quando começava a me expor demais, dava uma pirada e saía das redes sociais”, diz. 
Esses momentos de crise foram resolvidos quando Dafne fez um texto, que define como bem direto, para as pessoas que começaram a criticá-la pelo que consideravam superexposição na postagem de imagens. “Quase não escrevo, o que gosto é de divulgar minhas fotos. Quem não está gostando e acha que é exagero, é só não me seguir.” Quando posta fotos de antes da gravidez, Dafne diz que recebe cerca de 20 curtidas. Ao mostrar a barriga, já chegou a ter 100 curtidas. “Outro dia, postei uma campanha de vacinação e tive poucas curtidas”, conta. 

Wagner Tamietti Júnior
Wagner Tamietti Júnior
Já o coach e treinador pessoal Bruno Carcara é adepto de healthies, em que o principal conceito é aliar a identidade a um corpo saudável. Ele não esconde que sempre gostou de fotografias e de registrar todos os momentos de sua vida. Começou a utilizar as imagens para divulgar a profissão e teve um retorno grande de pessoas procurando seu trabalho, que consiste em montar dietas e fazer treinamentos personalizados, além de ensinar a ter vida mais saudável e respeito ao corpo. Mesmo assim, o número de selfies em sua página no Facebook já levou muita gente a chamá-lo de exibicionista e narcisista. “Nunca me importei, porque estou fazendo o que gosto e divulgando o meu trabalho. As pessoas criticam aquilo que invejam”, diz. 
Quem também descobriu novas utilidades para as selfies foi a empresária Thaís de Andrade Cardoso, 27, que utiliza as imagens para divulgar a marca própria de roupas. Mesmo assim, somente em suas redes sociais profissionais, porque, nas pessoais, só valem fotos com amigos e gente mais próxima, de preferência sempre em grupo. “Através das selfies, estou tendo a oportunidade de divulgar o que produzo. Pessoalmente, não gosto de tirar fotos sozinha.” 
Não importa se a pessoa gosta de postar muitas selfies ou se as imagens são em menor número, o que especialistas indicam é que sempre tem de haver a reflexão cotidiana de como cada um lida com as redes sociais e suas ferramentas. Segundo Fernanda Seabra, o abuso das selfies pode provocar uma dificuldade em determinadas pessoas em viver a vida real, já que no virtual tudo é glamouroso, sem fragilidades, calcado na imagem. “Dependendo do grau de adoecimento, essa dificuldade pode ser um transtorno em que a pessoa precisa se expor para que tenha a sensação de que está sendo vista.” A autoexposição, reflete Fernanda, pode estar associada à baixa autoestima em que as pessoas precisam que suas imagens recebam likes para se sentirem valorizadas e validadas. 
Segundo a psicóloga Mônica Vidal, perder o controle desse recurso tecnológico pode significar uma maior solidão, dificuldade de relacionar-se presencialmente com outra pessoa, ser muito tímido ou, o contrário, muito exibicionista. O descontrole na produção de selfies pode estar associado a transtornos como depressão, fobia social, transtorno afetivo bipolar e dismórfico corporal. 
“O transtorno dismórfico corporal caracteriza-se pela preocupação excessiva com a aparência física que leva a prejuízos concretos na vida do sujeito, como isolamento social, anorexia, bulimia, automutilação e até mesmo suicídio”, observa a especialista. Esse foi o caso de um jovem britânico que chegava a postar 200 selfies por dia com o propósito de tirar a foto ideal. Não conseguiu e foi salvo de um suicídio pela mãe.
O excesso de exibição pode assumir patamares perigosos. Atualmente, a última moda em autoexposição é a selfie pós-sexo, que tem se popularizado principalmente entre jovens e adolescentes. Fernanda Seabra diz que vivemos na sociedade da performance, em que tudo é ligado à imagem e em que as ações passam a não fazer sentido. “E o que não tem sentido, tem pouco sentimento. Tudo está muito racional. Estamos em um momento de rever valores.” 

Desafios na Educação de Filhos - Escola de pais do Brasil



No dia 13 de maio de 2014 estive na Escola de Pais do Brasil, sede Belo Horizonte, para falar sobre "Desafios na educação de filhos".  Gostaria de agradecer o convite e  a todos que compareceram e que acrescentaram em meu trabalho. Fui muito bem recebida e senti-me em casa. Pudemos juntos fazer boas reflexões sobre o ato de educar , nosso papel e função como educadores e a importância da família na vida de um ser humano.


                    Até a próxima!

I Encontro de Terapeutas - O Uso do Sandplay como recurso terapêutico.


Recebi um convite da Percursos para falar no I Encontro do Grupo de Trapeutas . O tema foi:  "O uso do Sandplay como recurso terapêutico" - através da apresentação de um caso clínico. Foi um momento muito rico em que colegas terapeutas puderam colaborar para um aprendizado em conjunto. Sinto-me honrada pelo convite e que o Grupo de Terapeutas cresça, frutifique e se fortaleça. 











terça-feira, 18 de fevereiro de 2014


Prorrogamos a data inicial do curso de formação em Sistêmica para dia 11 de março de 2014. Atendendo a pedidos, aumentamos a duração das aulas para 2h. O curso será de um ano e meio agora. 

 Faça já sua inscrição!!!