Desafios para
famílias com filhos adolescentes
Muito se tem
discutido sobre os temas: educação de filhos, relações familiares, entrada de
filhos na adolescência, limites etc. Vemos uma grande quantidade de pais
inseguros e perdidos quanto à sua função de educadores, não sabendo o que é
adequado ou não na educação de seus filhos. O conceito de família vem se modificando ao
longo dos anos e podemos encontrar famílias com estruturas diversificadas.
Mesmo com essa modificação , algo se manteve, é na família que aprendemos e
recebemos o nosso mapa para trilhar no mundo.
De acordo com
Teoria Sistêmica, a família é vista como um sistema dinâmico, vivo e que se
modifica de acordo com o tempo, com trocas internas (entre os membros que a
compõem) e externas (na relação com o mundo). Passa por ciclos que são considerados vitais e que trazem
aprendizados e novas possibilidades de irem além em seu
processo evolutivo.
Vou ater-me
ao ciclo de vida de pais com filhos adolescentes e não tenho pretensão de criar
bula ou manual para pais e sim o desejo de contribuir para um pensamento
reflexivo.
O período da adolescência
traz consigo mudanças físicas, emocionais e sociais, e para a família grande vulnerabilidade. O adolescente nesta etapa da vida questiona e
contesta as regras, as normas, as crenças e todo o funcionamento familiar como
tentativa de criar uma nova forma de ser, uma identidade baseada em sua nova
visão de mundo. Se na
infância a criança acreditava em tudo que lhe era transmitido, na adolescência
acontece o oposto disso, torna-se descrente, tenta desconstruir grande parte do
que lhe foi ensinado, vive suas questões intensamente e com pouca noção de
realidade.
De acordo com Rosset, 2003... “é na
família que experimentamos tanto o pertencimento quanto a diferenciação.
Pertencer significa participar, saber-se membro desta família, partilhar as
suas crenças, valores, regras, mitos e segredos. Diferenciar refere-se à
afirmação de sua singularidade, à sua individuação e ao seu direito de pensar e
expressar-se independentemente dos valores defendidos por sua família”.
Sendo assim, é na adolescência que temos a
oportunidade de fazer a nossa primeira tentativa de constituir um EU, de buscar
uma identidade própria, de tentarmos fazer as coisas à nossa maneira. Como não
sabemos fazer isso no primeiro momento, buscamos em nosso meio os grupos para
nos identificarmos, para reforçar nossa autoestima e começarmos a treinar o
papel de adulto.
É fundamental que os pais trabalhem o conceito
de flexibilidade e autoridade nesse processo, permitindo ao adolescente
explorar algumas nuances de sua autonomia, mas ao mesmo tempo dando lhe responsabilidades.
Sem
organização e disciplina não é possível preparar os filhos para a vida fora de
casa.
Toda
relação familiar para funcionar de forma adequada precisa de hierarquia para
que os papeis e funções fiquem bem definidos. Adolescente pede limite, lei e
organização e a família é peça chave para esse processo. Caso um dos pais tenha
tido dificuldades em seu processo de diferenciação, de busca pela sua identidade,
terá dificuldades em ajudar o filho nesse processo. Tem pais que nem saíram da
adolescência e que quando veem seu filho navegar por esses mares, sentem-se
como seus colegas ou muitas vezes não conseguem dar passagem para esse filho
caminhar e crescer. Outras vezes podem ter sido tão oprimidos que acabam por
repetir isso com o filho gerando conflitos na hora de estabelecer as regras ou
simplesmente não conseguindo se posicionar com autoridade na relação.
Acredito que
para que esse ciclo aconteça de forma saudável faz-se necessário um exercício
de compaixão, compreensão, e acolhimento das dificuldades e angústias
provenientes deste processo. É um momento turbulento para toda família, mas que
possibilita a evolução e o crescimento de todos e que irá prepará-los para adaptações em seus
ciclos posteriores.
Fernanda
Seabra CRP 04/18317- Psicóloga clínica e educacional, com formação em Psicoterapia familiar
Sistêmica.
Referência
bibliográfica: ROSSET, Solange. Pais e filhos – Uma relação delicada. ed. Sol
2003.
Texto publicado na revista Escola de Pais do Brasil - outubro de 2013.
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