Movimento prega a 'desaceleração' da rotina das crianças
JULIANA VINES
de São Paulo
de São Paulo
A infância se
transformou em uma corrida rumo à perfeição, e as crianças, em miniexecutivos
com agenda cheia de atividades.
É o que argumentam os
partidários do "slow parenting" (pais sem pressa), movimento que
prega justamente o contrário: que as crianças tenham menos compromissos e mais
tempo para fazer nada.
A ideia, que tomou
corpo na Europa e EUA, ganha força aqui. Na semana passada, a primeira edição
do "SlowKids", evento em prol da desaceleração da rotina das
crianças, levou 1.500 pessoas ao parque da Água Branca, em São Paulo.
Na programação,
atividades nada tecnológicas: oficina de jardinagem, brincadeiras antigas e
piquenique. "As crianças precisam desligar os eletrônicos e interagir mais
com os pais", diz Tatiana Weberman, uma das criadoras do projeto e
diretora da agência Respire Cultura.
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Segundo o jornalista
britânico Carl Honoré, autor de "Sob Pressão" (Record, 368
págs.,R$ 52), muitas crianças têm todos os momentos da vida agendados e
monitorados.
"Elas têm
dificuldades de serem independentes, ficam sob estresse e são menos
criativas", disse Honoré à Folha.
Ele foi o primeiro a
usar o termo "slow parenting". "Tudo começou quando a professora
do meu filho disse que ele 'era um jovem artista talentoso'. Na hora, a visão
de criar o novo Picasso passou pela minha cabeça", conta.
No mesmo dia, ele
começou a procurar cursos de arte para o filho, que na época tinha sete anos,
até que o menino disse: "Pai, não quero ter um professor, só quero
desenhar. Por que os adultos querem sempre cuidar de tudo?".
O puxão de orelha fez
com que ele voltasse atrás e começasse a pesquisar o superagendamento da
infância. Segundo ele, tudo começa com a boa intenção dos pais. Mas a vontade
de ser o pai perfeito transforma a educação em um jogo de tudo ou nada.
VIDA DE EXECUTIVO
Para a psicanalista
Belinda Mandelbaum, professora do Instituto de Psicologia da USP, a educação de
resultados antecipa o ensino de ferramentas para competir no mundo corporativo.
"Vejo crianças aprendendo mandarim porque os pais acham ser importante
para o futuro."
Quando o empresário
Marcelo Cesana, 38, diz não ter pressa de que o filho Caio, 1, aprenda a falar,
a ler e a escrever, questionam se ele não vai ter dificuldade para trabalhar.
"Me acham bicho do mato, mas não quero antecipar as coisas", diz ele,
que levou a família ao "SlowKids".
A gerente de supermercado
Vanessa Sheila Dias, 36, também foi ao evento com a filha Anne, 8 O domingo no
parque faz parte da ideia de reservar um dia para fazer nada. "A rotina da
semana é maluca, passo a ansiedade para a Anne", diz ela, que já se pegou
pedindo que a filha comesse um lanche de fast food mais rápido.
Anne não faz
atividades extraescolares. Já os filhos da psicóloga Patrícia Paione Grinfeld,
41, fazem natação, mas só aos sábados.
"Outros pais me
perguntam: 'Eles não fazem nada durante a semana?' Como se fosse algo
errado!", conta Patrícia. "Quero que crianças venham brincar com meus
filhos, mas todas são ocupadas, tem que marcar antes."
arte folha/Editoria de Arte/Folhapress
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As atividades extras
não garantem que a criança vá aprender mais, diz Mandelbaum. "Muitas
vezes, elas só aprendem a se adaptar a esse ritmo louco."
O primeiro efeito da
correria é a ansiedade, diz a neuropsicóloga Adriana Fóz, coordenadora do
projeto Cuca Legal, da Unifesp. "A criança fica frustrada pelo excesso de
atividades e pela falta [quando se acostuma à agenda cheia]. Fica entediada com
mais facilidade."
Não que toda
atividade extra deva ser evitada, mas é preciso respeitar o tempo da criança.
"Até os cinco anos os estímulos têm que ser mais naturais", afirma
Fóz.
De seis a 12 anos, é
hora de aprender de forma mais sistematizada, diz ela. Aí é preciso conciliar o
que os pais consideram ser importante com o desejo e as habilidades da criança,
cuidando para que ela tenha tempo livre.
"O ócio estimula
a criatividade e a curiosidade por temas e experiências diversas", afirma
a educadora e antropóloga Adriana Friedmann.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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