Faltam poucos dias para o "Dia das crianças" e, gostaria de dividir com vocês algumas ideias para refletirmos juntos a educação de filhos.
Do autoritarismo na educação dos filhos em que não se discutia as ordens dos pais à permissividade, falta de autoridade e de limites de hoje. A terapeuta de família Fernanda Seabra, de 34 anos, acha que a geração dela foi a última a obedecer aos pais. “Antigamente, criança não tinha direitos nem lugar dentro da família. O pai era a figura autoritária, que sentava à cabeceira da mesa, mantendo distância, e um simples olhar dizia muito para os filhos. Há 50 anos, bater era uma forma de educar”, conta Fernanda. “A geração que hoje tem 35, 40 anos ainda teve um certo limite, entendia o papel da família e acatava o que os pais falavam, apesar de já argumentar e negociar os pedidos.”
Se antes a criança era invisível para a família, as de agora ocupam um lugar nobre. “Tudo gira em torno delas. Em prol da educação, os pais fazem o que elas querem e deixam, muitas vezes, para depois os próprios sonhos. Os pais compram algo que acham que vai ser bom para a criança. Independentemente do salário que recebem, não deixam, por exemplo, de se sacrificar para dar de presente algo que mantenha os filhos nivelados socialmente.”
As crianças já representam um nicho de mercado. Se antes elas ganhavam um bom presente no Natal, hoje são presenteadas o ano todo. Sem hesitar, os pais compram a felicidade que não sabem dar de outro jeito. “A televisão bombardeia com informações de compre esse produto, compre aquele outro. Se você tiver isso, vai ser melhor, diferente. A criança acredita na informação, porque não tem discernimento entre o que está sendo falado e a realidade dela. Em termos de multimídia, então, o mercado expõe os videogames mais avançados, os jogos em rede são cada vez mais divulgados. E olha que o mercado é voraz, vai desde a merenda, as roupas, os sapatos e os brinquedos.”
A terapeuta destaca um outro ponto que considera importante: “As famílias perderam a noção de hierarquia. Na minha prática clínica, sinto que os pais estão perdidos em relação ao papel que exercem. Eles acham que por trabalhar fora devem atender a todos os desejos dos filhos. Por sua vez, as mulheres foram à luta para ajudar no orçamento doméstico, mas hoje trabalham porque têm prazer de estar produzindo”, diz.
A jornada de trabalho dos pais também aumentou muito, o que leva a um tempo menor para a família. “Muitas vezes, eles chegam cansados em casa e vão querer suprir tudo, porque ficaram o dia inteiro fora.” Ou ocorre o contrário: “Não têm energia e disponibilidade para o filho e o coloca sob os cuidados de uma babá eletrônica e virtual, como a tevê e a internet. Até por uma questão de consumo, há uma perda de contato”. Ela cita o caso de uma mãe que trabalha o dia inteiro e quando chega em casa a filha, de 15, e o menino, de 10, estão ao computador. Ela diz oi e eles respondem sem olhar para a mãe. Sabe quem é que faz a maior festa quando ela chega? A cachorrinha da casa. Os filhos nem notam que a mãe acabou de chegar, porque ficam atraídos pela brilhante e poderosa tela do mundo virtual.
Consumo
As relações familiares ficaram empobrecidas. “Os pais dão presentes materiais em lugar do afeto e do relacionamento. Devem ter a consciência de que afeto combina com limite, que é o dia a dia, o desgaste de cobrar, de corrigir, de repetir a orientação várias vezes para que a criança a assimile. Essa repetição é por amor, por zelo, por cuidado e proteção. Os pais precisam entender que pensar, avaliar e estabelecer regras e limites evita o exagero no uso da tevê, da internet, das compras no shopping”, ensina.
Sobre a criança de hoje, Fernanda alerta: “Quanto mais coisas prontas, mais ela perde a possibilidade de desenvolver a criatividade e o seu mundo interno. É o brincar que mobiliza as forças criativas, o desenvolvimento da personalidade e das relações humanas”.
É para abrir um espaço de discussão para os pais que a terapeuta vai ministrar dois cursos. O primeiro só para as mães, que vão conversar sobre as angústias e a ambivalência de sentimentos da maternidade. O outro para orientar os pais sobre todas as transformações do mundo contemporâneo e como lidar com os filhos, como enfrentar os desafios diante da exaustiva rotina atual. "É uma oportunidade para os pais de refletir e trocar experiências sobre a educação dos seus filhos", afirma.
Fernanda, Parabéns pela entrevista. Tenho 37 anos e penso que minha geração (aliás grande parte dela), já não teve limites e não obedece-obedeceu os pais. Interessante perceber que fui criado com muito carinho por 2 pais psicólogos, que tinham que trabalhar o dia todo para bancar 3 filhos estudando em bons colégios. Curiosamente os 3 fizeram medicina, para tentar não trabalhar tanto e poder cuidar melhor dos filhos (....ledo engano...rs). Mas os pais tentam colocar para os filhos presentes no lugar de carinho, babás no lugar do tempo com a família... O pouco tempo que têm não é vivido com qualidade com os filhos. Colocar limite numa geração criada desta forma se torna muito difícil, como dizem os professores, a quem os pais de hoje despejam o dever e a OBRIGAÇÃO de educar os filhos.
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